sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Terapia Com Estados Ampliados de Consciência Através da Respiração


Imagem: O mais recente livro do Grof sobre Respiração Holotrópica
O estado de consciência em que vivemos nos remete a uma vida mais racional do que emocional, um mecanismo de defesa que o ser humano lança mão para poder sobreviver sem culpas e poder guardar bem escondidos seus piores medos e maiores desejos. Essa negação, acreditam os especialistas, pode levar a sérios problemas psicológicos e anos de terapia. Uma prática, no entanto, tenta resolver este problema em poucas sessões sem medicamentos ou qualquer interferência que não seja extremamente necessária ou solicitada ao terapeuta. O trabalho de respiração holotrópica amplia a consciência através da utilização da respiração mais rápida e profunda, música e trabalho corporal, quando necessário, com liberação de energia. É complementado com arte terapia e compartilhar das experiências, com finalidade de auxiliar a integração dos conteúdos vivenciados.

Como surgiu o trabalho de respiração holotrópica?

Stanislav Grof, M. D., Ph. D., dedicou mais de 20 anos conduzindo pesquisa em terapia psicodélica em Praga, na Checoslováquia e no Maryland Psychiatric Research Center, em Baltimore, Maryland, nos Estados Unidos, explorando o potencial heurístico e terapêutico do LSD e outras substâncias psicodélicas.
Com o propósito de criar uma nova psicologia que pudesse honrar o espectro inteiro da experiência humana, incluindo os vários estados incomuns de consciência os integrantes de um pequeno grupo que viria a criar a nova força em psicologia deram à nova disciplina, o nome de "psicologia transpessoal” por sugestão de Grof.
Após a proibição do LSD, Stanislav Grof buscava uma maneira de continuar sua pesquisa. A partir de 1975, Stanislav Grof desenvolveu, nos Estados Unidos, juntamente com sua esposa Christina Grof, um poderoso método de terapia e auto-exploração, o trabalho da respiração holotrópica que leva os praticantes a perceberem o potencial transformativo e de cura dos estados incomuns de consciência sem a necessidade de drogas.

Por que “holotrópica”?

Significa “orientado para a totalidade”, “indo em direção à totalidade/inteireza”. Holotrópico foi o termo criado por Grof, em 1982, para um largo e importante subgrupo de estados incomuns de consciência, com um notável potencial transformativo e terapêutico, que podemos vivenciar, quando realizamos o trabalho de respiração. Este subgrupo difere de modo significativo dos restantes e representa uma fonte incalculável de novas informações sobre a psique humana, na saúde e na doença.
Na terapia psicodélica, estes estados são induzidos por administração de plantas ou substâncias que ampliam a consciência. No trabalho de respiração holotrópica, ele é atingido pela combinação de respiração mais rápida e profunda, música evocativa e trabalho corporal localizado, que ajudam a dissolver bloqueios bioenergéticos e emocionais.
“No modo de consciência hilotrópico, nós experienciamos apenas uma parte limitada e especifica do mundo fenomenal ou da realidade consensual, de momento a momento. A natureza e a extensão deste fragmento experiencial da realidade são definidas de modo ambíguo, por nossas coordenadas espaciais e temporais no mundo fenomenal, pelas limitações anatômicas e fisiológicas de nossos órgãos sensoriais e pelas características físicas do ambiente.” (Grof, 1997)
No modo de consciência holotrópico, a consciência experimenta uma ampla variedade de fenômenos que ocorrem em diversos níveis da realidade transpessoal.
“Estes aspectos incluem não só o acesso à história biológica, psicológica, social, racial e espiritual do indivíduo, e ao passado, presente e futuro de todo o mundo fenomenal, mas também o acesso a muitos outros níveis e domínios da realidade descritos apenas pelas grandes tradições místicas do mundo.” (Grof, 1997)

Quais os benefícios ao cliente?

O budismo tibetano nos mostra que os maiores males advêm da ignorância, do desejo e da agressividade, que perpetuam os ciclos de nascimento e morte e que são responsáveis por todo o sofrimento em nossas vidas. Este método faz com que outros domínios da psique possam ser integrados e tornados conscientes, de um modo natural e transformador, permitindo a evolução do indivíduo em direção a totalidade. A técnica de uma maneira geral leva a auto-exploração, autodescoberta, transformação e cura.

Como é o processo?
Num primeiro encontro, o facilitador faz uma preleção sobre o que é o trabalho de respiração holotrópica e o que esperar do processo. Uma vez que as pessoas resolvam participar, aplica-se um formulário médico, seguido de uma entrevista para o terapeuta saber como a pessoa está fisicamente, emocionalmente, se há contra-indicações e, também, para estabelecer um contato com o cliente, deixando-o mais a vontade.
É sugerido um contrato ético verbal, para que impere o respeito, o apoio sem julgamento e críticas, para que os participantes se sintam seguros ao se entregarem à experiência, com confiança no processo.
Os participantes trabalham em duplas, alternando os papéis de respirante e de acompanhante

O Trabalho de Respiração Holotrópica não usa nenhuma intervenção que venha de análise intelectual ou que estejam baseadas a priori em um construto teórico. O aquecimento para dar início é feito através de um relaxamento, ao qual se segue a música, dando início ao trabalho de respiração acelerada, até que haja a ampliação da consciência trazendo o potencial de cura. A música toca por cerca de 3h e, quando cessa, o facilitador vai até cada um, para verificar se o processo realmente se encerrou. Em seguida, cada um dos respirantes é conduzido a outra sala onde poderá expressar, de outro modo, o que está sentindo, através de arte terapia.
Em outro momento há a inversão de papéis entre o respirante e o acompanhante. O acompanhante passa a ser o respirante e vice-versa. Todo o programa se repete com novas músicas, experiências e arte terapia.
Ao final de cada respiração todos se reúnem para compartilhar as suas experiências. É o momento em que os participantes narram a sua experiência, sem que haja críticas ou julgamento e onde o respeito à fala e ao processo de cada um é fundamental. O momento ainda é de expressão, de apoio e confiança no que foi vivenciado, sem a utilização do raciocínio reducionista. A razão virá ajudar a entender tudo o que foi vivenciado no emocional, desnudo de preconceitos, só nos dias subseqüentes.
Caso as pessoas sintam a necessidade de lidar mais com seus conteúdos elas podem procurar trabalhar com arte terapia ou musicoterapia. Podem escrever sobre as experiências vivenciadas e discutir a sessão com um facilitador experiente. Podem, também, procurar o seu terapeuta para dividirem um pouco mais e terem mais percepções sobre a experiência e integrá-las de uma maneira satisfatória.

E qual o papel do facilitador?

O papel do facilitador é o de apoiar o processo experiencial com total confiança em sua natureza curativa, sem tentar direcioná-lo ou modificá-lo. A experiência é completamente interna e não-verbal, sem intervenções. Se precisar de ajuda, a pessoa solicita ao facilitador. Quando está tensa, solicita um trabalho corporal, para liberar energia. Quando tem medo, ela se sente incapaz de lidar com o que a mente coloca à sua frente, então o facilitador a apóia e incentiva, gerando confiança para que ela consiga lidar com aquele conteúdo. Pode não ser uma situação prazerosa, já que é difícil lidar com os bloqueios internos.

E como o cliente reage a essas experiências?

A natureza e o andamento das sessões variam, consideravelmente, de pessoa para pessoa e na mesma pessoa, de sessão para sessão. Há uma gama enorme de experiências que podem emergir para serem vivenciadas. Algumas pessoas não apresentam aparentemente grandes manifestações, mas no compartilhar elas relatam experiências profundas.
Há casos de explosões emocionais, efeitos físicos - tremores, arrepios, formigamento do corpo, dores, tensões fortes. A pessoa amplia a consciência e passa a ter uma percepção mais apurada dela mesma. A respiração contínua e acelerada representa um método de redução de estresse, extremamente poderoso e eficaz, que conduz à cura emocional e psicossomática. Resultados típicos de uma sessão são profunda liberação emocional e relaxamento físico. É essencial, para que a experiência tenha a melhor integração possível, que os facilitadores e acompanhantes fiquem com o respirante durante todo o tempo em que permanecer em processo e vivenciar as suas experiências internas.


Com o que a pessoa entra em contato?

Ficando aberta, o mais completamente possível, para a experiência, sem julgamento, confiante no conteúdo que poderá emergir advindo da ampliação de consciência, ela poderá entrar em contato com os conteúdos de toda cartografia da psique, através de experiências que podem ser: biográficas rememorativas (de infância, adolescência e fase adulta); perinatais (anterior, durante e logo após o parto) e, ainda, as transpessoais que compreendem as memórias ancestrais, raciais, coletivas e filogenéticas, as experiências cármicas e da dinâmica arquetípica, quando se identifica com etnias, figuras mitológicas, animais, arquétipos, plantas, entre outras.
Importante: Pode-se viver tanto um estado de paz profunda ou de perturbação. Quanto mais a pessoa se conhece, melhor conseguirá lidar com isso. Ele não lida com algo específico, já que é guiada por um potencial interno de cura. O conteúdo aparecerá junto com um potencial para ser descoberto, transformado e curado.

Qual a importância da música?

A música evocativa mobiliza emoções associadas a memórias reprimidas, levando-as à consciência e facilitando a sua expressão. Ela intensifica e aprofunda o processo terapêutico fornecendo um contexto significativo à experiência. As músicas escolhidas são aquelas que têm uma cadência semelhante ao processo da experiência holotrópica: no início, é de abertura, evocativa e estimulante, em seguida, passa a ser de transe, tornando-se uma música para quebrar barreiras, mais poderosa e dramática, e, então, passa a ser de coração, terminando como mais meditativa e relaxante, para ajudar ao paciente voltar ao seu estado normal de consciência.

É preciso quantas sessões para um tratamento completo?

Depende muito da pessoa. É pouco provável que apenas uma sessão seja suficiente. Estabelecemos que no mínimo seja o ideal dez, ou mais sessões, no entanto não está excluída a possibilidade da pessoa querer respirar menos sessões. A cada sessão há um aprofundamento maior no processo. E como o processo psíquico evolui indefinidamente, à medida que a pessoa insiste no método, ela vai se conhecendo, se transformando e evoluindo cada vez mais.
“É importante perceber que o trabalho holotrópico tem um fim completamente em aberto. É melhor pensá-lo como um projeto de pesquisa e de vivência psicológica contínuas. A terapia holotrópica é um processo de aprendizagem contínua, e não uma aplicação mecânica de um sistema de conceitos e regras fechados.” (Grof, 1997)

É possível praticar sem acompanhamento, ou seja, sozinho?
É totalmente contra-indicado. Muitas pessoas tentaram vivenciar experiências sozinhas ou caíram nas mãos de profissionais não qualificados e se retraumatizaram. O trauma ocorre justamente quando ficamos mobilizados por não conseguir lidar com um conteúdo, nem expressar o necessário. Quando entramos em níveis ampliados de consciência podemos experienciar situações difíceis e traumáticas. Caso isto ocorra, o apoio de um profissional qualificado é indispensável para dar segurança ao enfrentar a situação emergente. Apoio, segurança e respeito ao processo são indispensáveis para auxiliar na transformação e integração da experiência.

Para que tipo de problema esta terapia é mais indicada?

Há resultados de melhoras em casos de dependência química e psicológica, distúrbios emocionais (estresse, estresse pós-traumático, abusos, fobias, ansiedade, depressão) e psicossomáticos, incluindo enxaquecas, asma, infecções crônicas (sinusite, faringite, bronquite e cistite), osteoporose, artrite e reconstituição da circulação periférica do cliente.

Quais as contra-indicações?

Esta vivência não é apropriada para mulheres grávidas, pessoas com problemas cardiovasculares, hipertensão severa, algumas condições psiquiátricas diagnosticadas, cirurgias recentes, fraturas, doenças infecciosas agudas, epilepsia ou emergência espiritual ativa. Caso o interessado tenha alguma dúvida sobre se deve participar, é essencial que consulte seu médico ou terapeuta, bem como os organizadores do evento.

Como é a formação do facilitador?

A Terapia com Estados Holotrópicos de Consciência foi desenvolvida pelo Dr. Mauro Pozatti, Diretor da Unipaz-Sul. O treinamento para a formação requer 150 horas de respiração, assim como o estudo da cartografia da psique desenvolvida por Stanislav Grof e prática supervisionada com facilitadores experientes, estágio supervisionado do uso da tecnologia sonora e da música no trabalho experiencial, trabalho corporal de liberação bioenergética, confecção de mandalas, partilha em grupo, estudos de casos, sincronicidade e arte-terapia, biodinâmica e psicopatologia dos estados holotrópicos de consciência, xamanismo, tradições, religiões e o sagrado, consciência corporal, mitos e sociedade, representação, mitologia e o contar histórias (mitologia pessoal), astrologia, morte e renascimento em psicoterapia, assim como o estudo e aprofundamento na aplicação da terapia para ajudar a integrar o processo experiencial sem interpretar o conteúdo simbólico, emocional e transpessoal da experiência individual, mantendo o propósito da terapia holotrópica desenvolvida por Stanislav Grof.

Para saber mais:
Psicologia do Futuro, Stanislav Grof – Ed. Heresis
A mente holotrópica, Stanislav Grof – Ed. Rocco
A aventura da autodescoberta, Stanislav Grof – Ed. Summus

Um comentário:

Unknown disse...

Qualquer pessoa interessada pode ser facilitador? Quais exigências para tal? Onde procurar?